sábado, 4 de maio de 2013

A voz do povo - a nossa voz!



O início do Projeto De Corpo e Alma, como o início de qualquer projeto, marcou uma mudança de direção sob a forma de declaração assertiva de uma nova maneira de estar perante a vida. Decidi embarcar nesta imensa viagem, ou assim me parece do ponto de vista estritamente pessoal, vencida pelo cansaço de uma vivência de contornos desvirtuados daquilo que hoje considero essencial. Foi uma decisão maturada, arriscada – tanto quanto a própria vida assim o exige -, mas consciente do rumo a ser tomado por forma a honrar o esforço da sobrevivência. Para quem não me conhece, esta viagem começou com um fim, tal como as melhores e mais felizes histórias começam. Começou, precisamente, na desistência de uma realidade fortemente orientada por convenções sociais; um emprego estável e devidamente remunerado pelo Estado, a falsa segurança de saber-se que o estado da conta bancária no final do mês equivale a uma vida desprovida de percalços e, acima de tudo, a ilusão de que uma vida feliz é o resultado de um dia-a-dia ordeiro e socialmente aceitável. Contra as opiniões desfavoráveis de pessoas suficiente próximas para justificar ponderar a desistência, muni-me das armas necessárias, enchi o peito de ar e confiança e segui em frente. 


Dei os primeiros passos com a criação de parcerias que dessem corpo e alma às minhas convicções, criei uma página de negócio no facebook e divulguei assertiva e determinadamente os meus serviços. Meses mais tarde, seguindo o mesmo propósito do trabalho que desenvolvo, mas como forma de partilhar o meu olhar sobre a vida – em termos profissionais limito-me a ajudar quem me procura a encontrar o seu propósito de vida – decidi criar o meu blogue. Prometi a mim mesma que o fim do que publicaria seria meramente instrutivo e construtivo. Eliminei, mentalmente, certos e determinados temas da possível lista de dissertações. Confiei a mim mesma a missão de dar a ler algo que se resumisse ao essencial da vida e ao que promove felicidade. Acredito ferverosamente, e faço disso um mote na minha vida, que as preocupações são entraves ao desenvolvimento. Não obstante, a preocupação, a consternação, a raiva, o ódio e todos os sentimentos que possam ter como base o medo são necessários. Sem eles não nos é possível equacionar mudar de posição e fazer qualquer movimento com vista à expansão. Assente neste princípio, e dada a situação mais que saturada que é a realidade da maior parte dos que me leem, portugueses e não só, decidi escrever o texto de hoje; não contrariado as minhas promessas iniciais, mas ultrapassando a queixa política generalizada com o intuito de sugerir um novo ponto de vista, provavelmente não conclusivo, mas, pelo menos, mais saudável.


O problema, se é que se pode falar nestes termos, de todos os que se indignam com o estado político do país em que vivem não tem origem nos políticos. De igual modo, dito problema não tem origem na figura personificada que é o governo. Quando digo que estas não são as origens do problema, de modo algum pretendo desculpabilizar aqueles que, após terem ganho a confiança cedida através do voto dos eleitores, se limitam a favorecer interesses pessoais sem olhar a meios, exercendo uma profissão que deveria servir um bem comum, com dignidade e perseverança de propósito. Quando digo que estas não são as origens do mal-estar generalizado de que tanto ouço falar um pouco por toda a parte e, inclusivamente, na voz dos meus clientes sob a forma de queixa, desolação e, muitas vezes, desespero, digo-o porque, para mim, é inevitável olhar para a situação a partir de uma perspetiva distinta. Do meu ponto de vida, e do ponto de vista de quem aceitou mudar de direção e procurar a felicidade num outro caminho, consciente das oposições à vista, não se pode analisar a questão de forma descomprometida e desculpabilizada. Por detrás da realidade política, e anterior a todas as medidas cruelmente aplicadas sem qualquer piedade, está um voto. Existe um momento em que se escolhe, em que se afirma a nossa convicção de optar por determinado caminho e há um momento de autodefinição. Ainda que me pareça que a política se encontre desvirtuada do seu princípio primário, há uma responsabilidade que é de todos, uma voz que merece ser ouvida e cujo direito ainda é um facto. 


A todos os que me procuram na esperança de que, com a numerologia ou a com cura reconectiva, eu os possa orientar num caminho mais feliz, e encontrando-se num estado de estagnação pessoal, infelicidade ou, pura e simplesmente, num estado de vazio ensurdecedor, o ponto de partida para resolução que proponho é sempre o movimento. Ainda que não estejamos conscientes do rumo ou da dimensão do passo a dar, todo e qualquer problema pessoal não se pode resolver por si próprio e sem a nossa intervenção. Abanar as nossas próprias estruturas obriga-nos a uma redefinição daquela que é a nossa verdade e obriga-nos a reconhecer, perante nós próprios, a certeza de que não estamos bem e de que queremos algo mais. É um direito nosso: querer mais da vida!


É uma verdade que muitas têm sido as sólidas tentativas de marcação de posição. Efetivamente, é com orgulho que vejo um povo que se reconhece a si próprio como “pacífico” e “cauto” a organizar manifestações que movem multidões na tentativa de afirmar o sentimento de desagrado generalizado. Tanto é o orgulho desses movimentos, que só comprovam a grandiosidade do coração português que vive desejoso de paz, como a triste constatação de que é um movimento em círculo, começando e terminando na mesma posição.


Quem me conhece sabe que, de há um tempo a esta parte, deixei de acreditar na política que se faz hoje em dia. Ainda que me mantendo ativa por direito através da ida à urna para afirmar o voto que não dispenso, a descredibilização está presente. Confio que num mundo ideal não se faz política deste modo, confio que o ser humano tem a capacidade intrínseca de se autorregular, não necessitando de conceder a sua vontade a um grupo selecionado de pessoas que se assumem superiores na tomada de decisão. À parte dos meus ideais, acredito que há um movimento eficaz que pode e deve ser feito. Acredito que todos os povos, em retaliação à má governação, podem ainda expressar-se, sem gritos, sem violência e sem desvirtuar a sua própria opinião. A nulidade das medidas que se fazem sentir, das políticas a que nos obrigam a acenar e da forma de brincar que nem crianças inconsequentes “aos políticos” tem uma via de expressão efetiva: o voto em branco!


Na minha opinião, válida na sua limitação pessoal, o movimento deve ser feito. Há que honrar o instinto de sobrevivência e ousar arriscar um passo distinto e firme. Há que deixar de lado a queixa, relembrar a agonia com a devida distância de modo a persistir a salvo e a não cair no esquecimento, e demonstrar que o vazio que se sente é isso mesmo, um vazio imenso que turva a visão e inviabiliza todas as possibilidades.


O ser humano é um ser livre, profundo nos seus silêncios e rico na sua expressão. A verdadeira felicidade surge na expressão dessa mesma liberdade, na voz que nasce do silêncio, que amadurece na convicção e se faz ouvir nos direitos que exige. A voz do povo deve ser a expressão da liberdade e da vontade. A voz do povo - a nossa voz - é, irredutivelmente, a expressão do que somos.




sexta-feira, 3 de maio de 2013

Eu mereço!



Na vida há que saber-se estar. Há que saber respirar. Há que saber sentir e sentir-se.


Na vida é preciso procurar momentos de silêncio, de paz com a alma e com o mundo. Cada minuto na vida deve ser tragado como um pedaço de prazer com que nos deliciamos. Cada minuto deve ser o minuto na vida que receamos não viver, experienciado até ao último segundo e, nós, sedentos de todas as horas por vir, nos imensos dias que nos restam.


Viver, seja de que forma for, com os mais distintos caminhos que nos propomos seguir ou perder, é a nossa definição de puro merecimento. Viver é a aceitação tácita da declaração da nossa existência.

Podemos optar por saborear a vida e sentir o seu fluxo percorrer-nos ou assistir, enquanto meros observadores, à nossa passagem por ela, como vítimas de um destino que nos é alheio. É um risco enorme que se corre deixar que a vida corra por um qualquer percurso sem destino. Não saber para onde vamos, e, sobretudo, aonde nos dirigir, é não saber merecer o benefício que a vida é, na sua imensa beleza e distinção.


Poucos de nós vivem com confiança no seu caminho. Poucos de nós vivem agradecidos à vida pelo que se recebe. Felizmente, cada vez são mais os que reconhecem a importância de uma existência feliz, determinada e realizada. Mas o difícil na vida, mais do que descobrir o que de bom a vida tem, é saber-se merecê-lo, com confiança e convicção do que se merece e de que, todo o bem que nos sorri, nos é devido por direito.


Durante muito tempo, e à semelhança das realidades alheias que tenho observado, não soube merecer o que a vida me dava. Era tão fácil queixar-me do que não tinha, do que me faltava e do que queria ter que, quando – efetiva e merecidamente – as obtinha, não as sabia reconhecer como valor meu. Não é fácil recebermos de braços abertos as bênçãos que vêm até nós quando não estamos habituados a sentirmo-nos preenchidos. É preciso abrir o coração e querer amor. É preciso que se esqueçam as dores, os apegos e as faltas para receber dentro de nós o bem que se quer receber. Acima de tudo, é preciso uma boa dose de amor-próprio. Olhar no espelho e saber que há um valor intrínseco que não advém de reconhecimento alheio, mas, sim, do dom de se existir e das boas qualidades que todos, sem qualquer exceção, possuímos. Amarmo-nos desta forma é abrir o caminho a que vida nos sorria sem reticências. É, também, a nossa forma de dizer à vida que queremos ser felizes, que nos queremos perder – tranquilos e confiantes – em todo o bem que há. Se não soubermos apreciar todas as nossas alegrias, não podemos merecer com convicção o que desejamos. Mostrarmo-nos convictamente merecedores é a nossa retribuição perante a vida e perante as oportunidades que nos são dadas. 


Durante todo o tempo que não soube merecer a vida, tive medo. O medo é a pior armadilha de todas as armadilhas. É um caminho errado quando tudo dentro de nós grita para irmos no sentido contrário. As más emoções são a nossa orientação no caminho inverso do do medo. São a indicação de que algo não está bem, de que é preciso dar atenção ao que sentimos, reavaliar o caminho percorrido e ousar escolher diferente. A falta, a perda, o luto e o sofrimento do não merecimento é o medo disfarçado, corrompendo a nossa natureza amorosa e sábia que nos dirige, insistentemente, no caminho do amor.

Ousar pensar diferente. Ousar fazer diferente. Ousar ser diferente. Arriscar um passo em frente, diferente do modo de estar que conhecemos, é o primeiro movimento no encontro do merecimento. Primeiro desconstrói-se o padrão antigo, depois ultrapassa-se a estranheza e aceita-se sorrir às novas emoções para, de seguida, darmos por nós numa dança flutuante de bem-estar e felicidade, subtil ao olhar comum e imensa dentro de nós. 


Abraçar a vida deste modo é um saber viver com coragem. É um imenso ato de coragem querer-se bem, a nós próprios, às nossas escolhas e à nossa verdade. Ter um olhar destemido perante a nossa realidade e assumir tudo o que merecemos, sem desvalorizar ou repensar que não deveríamos ter tamanho gozo ou ser tão imensamente felizes. Os pequenos momentos tornam-se os maiores, plenos de gaudio e exultação. A alegria, o bem-estar e o peito cheio de coisas boas passamos a ser nós, merecedores que somos do bem que aceitamos ser.