quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O eco da amizade




Ontem, em mais um chat diário e obrigatório com a minha melhor amiga, passámos em revista os últimos dez anos de cumplicidade da nossa amizade. Dez anos correspondem a uma década das nossas vidas, provavelmente cerca de um oitavo daquilo que nos é esperado desta experiência enquanto aquilo que somos.

Poderíamos pensar que uma década é uma ínfima parcela de tempo quando comparada com outras tantas amizades que ultrapassam horizontes temporais expectáveis, como as amizades que começam na infância e se estendem até aos últimos dos nossos dias, até a nossa pele não permitir mais sorrisos partilhados e a nossa mente não conseguir guardar mais memórias. Nesta nossa amizade, neste nosso refúgio especial a que acorremos tantas vezes, não existem limites nem fronteiras. Não há começo nem há fim. Não são dez anos, nem uma vida, é um tempo infinito que o relógio não marca e só o coração conhece.

Ao recordarmos os dez melhores anos da nossa vida, recordámos o tempo que passou rápido demais e que não sentimos em nós, mas recordámos também os momentos que ficaram impressos, marcados a ferro e fogo na nossa pele, no nosso sorriso, no nosso olhar: a nossa primeira experiência enquanto adolescentes e enquanto mulheres, a nossa primeira desilusão, o nosso medo, a nossa primeira e última discussão, que jurámos em silêncio não repetir, e a primeira observação da vida…a nossa vida… Sim, porque em nós não há dois sorrisos, nem dois olhares, nem a pele de uma e a pela da outra, porque a nossa amizade é una. A nossa amizade é um corpo só, alheio aos nossos próprios corpos, com vida, personalidade e destino únicos. É um corpo que amadureceu, mas não envelhece. É um corpo que se torna cada dia mais jovem, com mais ânsia de viver e de sentir no rosto a brisa terna, amena e paciente da vida.

A nossa amizade não quer saber do futuro, prefere perder-se na imensidão do passado e das memórias e acolher em si as sensações outrora vividas para poder senti-las, uma e outra vez, até se esgotar o poço de emoções em que submerge, mas que não se esgota.

O tempo desta amizade vai muito para além do tempo e para além da vida. É uma amizade que nasceu antes de se conhecer a si própria e antes do impulso de existir. Nasceu no momento intemporal em que soube que tinha de acontecer, e aconteceu!

Mas o encanto desta amizade vai muito para além do tempo ou das memórias. O encanto desta amizade está na sua determinação em reinventar-se todos os dias, surpreendendo-se a si própria com a perfeição com que se define e se assume perante todas as contrariedades e desafios. É uma amizade que está antes de tudo e para além do que existe, serena e segura de si própria.

Revisitar a memória e tocar ao de leve as notas que compõem a melodia dos momentos passados é ouvir um eco que ressoa e se perpetua para lá do que conseguimos ver ou imaginar e, na verdade, não precisamos de ver nem imaginar porque a nossa amizade não é um momento ou um tempo, é um antes, um agora e um depois, um passado um presente e um futuro sem fim, eterna e imensa como queremos e permitimos que seja. Revisitar esta última década de cumplicidade é relembrar a existência de algo que faz tanto sentido, que nos enche a alma e permite que o tempo passe rápido, tão rápido que podemos esquecer os detalhes desta composição maravilhosa porque, para além da imaginação e da realidade, a nossa amizade será sempre uma melodia a ecoar nas nossas vidas.  

Para ti amiga ;)


terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Quando mudamos, tudo muda...

Gosto quando, de pequenas histórias, surgem grandes conclusões.
Hoje decidi reler as Parábolas de Kryon - Livro IV de Lee Carroll. Confesso, não sou fã de todas, mas gosto particularmente da que decidi postar aqui hoje.
Deixo os comentários e as ilações a quem ler o post, na esperança que sirva de incentivo a quem tiver a coragem de ser o exemplo e que inspire quem tiver a coragem de querer mais de si próprio. Quando mudamos, tudo muda...


A parábola do Poço de Alcatrão

"Imagine-se a si mesmo, junto com muitos outros Seres Humanos, num poço de alcatrão. Todos estão cobertos de alcatrão da cabeça aos pés, incapazes de se moverem rapidamente de um sítio para outro devido à espessura do alcatrão. À medida que se desloca penosamente de um lugar para outro, vai-se habituando a esta situação e, ano após ano, vive a sua vida deste modo, juntamente com outros. Semelhante à gravidade do planeta, o estorvo do alcatrão é simplesmente aceite, é uma realidade para todos.
Este é o estado em que você imagina que está.
Mas, de repente, mas discretamente, você recebe um presente de Deus. Trata-se de uma ferramenta "mágica" que limpa o seu corpo e o mantêm limpo, ainda que continue no alcatrão! Como um campo energético, repele o alcatrão à medida que você avança através dele. Você aceita o presente e o trabalho que o acompanha, e começa a aprender a usá-lo. Como resultado, você vai mudando lentamente. Começa a destacar-se dos outros, porque é diferente: é fresco e limpo enquanto eles se movem à sua volta, ainda no escuro alcatrão. Então, começa a dar-se conta de como você mesmo cocriou esta situação para si, mas também se apercebe que se trata de um presente muito pessoal. Portanto, não faz comentários acerca do assunto.
Mas, acaso acredita que quem o rodeia não vai reparar que você se movimenta livremente, sem que o alcatrão lhe toque ou lhe impeça a passagem?
Não. Eles verão como o alcatrão toca o seu corpo, mas não o suja!
O que acha que irá acontecer? Ah! Repare! Eles estão prestes a mudar!
A primeira coisa que ocorrerá é que, vá você onde for, sempre haverá espaço, porque o abrem para si; a segunda coisa que ocorrerá é que lhe perguntam: “Como é possível algo assim?”. E, quando descobrirem a "ferramenta mágica de Deus", cada um deles começará a usá-la, também, por si mesmo, e, cada vez mais, haverá mais Humanos "limpos"; cada pessoa estará criando para si mesma, tal como você fez.
Enquanto continua a levar a sua vida caladamente durante um certo período de tempo, repare no está a acontecer àqueles que o rodeiam. Mais de metade deles estarão “limpos” e sem o estorvo do alcatrão!
Pare e pense no que realmente sucedeu. Você não apregoou a sua dádiva nem pediu a ninguém para se transformar; no entanto, transformaram-se. É assim que o trabalho de um só ajuda muitos!
Dizemos-vos que, quando vocês se transformam, passam a ser o ponto de partida da mudança daqueles que vos rodeiam. Os Humanos não podem ficar indiferentes quando vêm paz e amor emanando de vocês. É conciliador e está cheio de amor, simultaneamente. Como um imã entre outros imãs, a vossa nova polaridade afetará, mais tarde ou mais cedo, o alinhamento de todos os que vos rodeiam. E a sua existência nunca mais será a mesma. "



domingo, 24 de fevereiro de 2013

A pele dos outros



Uma das minhas grandes tarefas enquanto numeróloga é ajudar quem me procura a entender o seu caminho de vida, o propósito da sua existência como um fim supremo. Na verdade, é mais do que uma tarefa, é algo que transcende o meu trabalho e que incorporo na minha vida como uma missão. 

Durante os mais críticos e instrutivos anos da minha vida, entenda-se o período caótico da adolescência, debati-me com as constantes crises existenciais, próprias da idade e tão especiais, acerca do entendimento da vida, em particular a minha, a um nível que nem eu própria entendia ser tão imensamente profundo. A inocência, a inconstância e a visão turva, dignas de quem começa a habituar-se a esta vida e à sua própria pele, não permitiam mais do que questionar-me, sabendo no meu íntimo, mesmo que de forma inconsciente, que o doloroso, longo e gratificante caminho do entendimento se perfilava ainda tão distante. A adolescência é incauta e maravilhosamente cega, permitindo-nos apenas ver através dos olhos e negligenciando a visão sábia do coração.

Hoje em dia, decorridos anos da era dos porquês disfarçados, cheguei à fase da verdadeira procura, aquela que se define todos os dias, não olhando para mim, mas olhando para o que me rodeia, em especial olhando para todos os que formam e cocriam a minha vida comigo. A verdadeira experiência reveladora da minha pele tem sido o entendimento da pele dos outros, o toque suave e ameno, o toque que pede licença depois de tocar, precisamente no instante seguinte a ter ultrapassado todas as fronteiras da intimidade. 

Ao entender o caminho dos outros, tenho chegado mais perto do entendimento do meu próprio caminho. É uma jornada de responsabilidade esta da cocriação, da participação ativa na vida daqueles que se cruzam connosco, aparentemente por acaso, tão certamente de forma intencional. É uma aprendizagem de toda uma vida a de nos reajustarmos permanentemente às conclusões, para novamente duvidarmos e, mais uma vez, questionarmos os porquês. No final de cada recomeço, chegámos um pouco mais perto, num passo mais à frente da posição anterior. Mais perto dos outros, mais chegados a nós.

Há uma magia especial na forma como permitimos fazer parte da vida uns dos outros sem nos darmos conta de que se trata de uma aproximação a um campo de verdade antes inacessível. A partilha de ideias, de palavras, de emoções, de desejos e de experiências é uma partilha de energia numa linha temporal infinita que vai eliminando espaços entre uma unidade que se apresenta separada. E é por isso que há tanta magia na partilha, porque, na verdade, não é uma partilha, é uma reunião  de caminhos de vida que se unem para criar uma unidade que só assim faz sentido, una!

Darmo-nos conta de como os caminhos se cruzam de maneira tão perfeita, sob a forma de sincronicidades destinadas a denunciar o porquê dos porquês, é uma visão privilegiada. É uma oportunidade de abraçar o destino com outro olhar, o olhar de quem vive sedento de se conhecer e experienciar a vida a um nível inexplicável e ininteligível. Mas abrir o caminho a conhecer uma verdade que não é nossa, que não nos diz respeito diretamente, mas que nos fala numa linguagem que reconhecemos de forma inquietante e no nosso íntimo, é transcender a autossuperação da essência humana. E, no fundo, é essa a janela através da qual vislumbramos a nossa caminhada, a caminhada de andarmos lado a lado com quem aceita que, sem pedir licença, toquemos a sua pele.


terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

O elogio do milagre


Ultimamente tenho tido o enorme privilégio de estar rodeada de um número considerável de mulheres extraordinárias a experienciar o milagre da maternidade. Sem menosprezar o papel masculino na tarefa de trazer um ser ao mundo, acho transcendente o processo evolutivo de se ser mãe, independentemente das circunstâncias, do quão planeada foi ou não a gravidez, da preparação consciente ou não para este estado de graça, ou até mesmo da decisão de engravidar muitas vezes não bem-sucedida. A verdade é que a maternidade ocorre quando a mulher dá os primeiros passos na sua decisão de abraçar o projeto de engravidar, consciente no seu coração, e não na razão, da verdadeira noção de ser mãe.

Quando digo que tenho tido um enorme privilégio, digo-o porque tenho tido a possibilidade de observar de perto, mas com o devido distanciamento, a evolução que este milagre opera na vida destes seres fantásticos que se encontram irredutível e generosamente preparados para criar, construir e dar vida dentro de si.
Através do olhar compassivo de amiga, do olhar analista de numeróloga ou do olhar cúmplice de mulher, tenho acompanhado as alegrias, o entusiasmo, os medos, as hesitações e, sobretudo, a tomada de consciência da grandiosidade da inevitável mutação interior. Não tenho a pretensão de falar da experiência da maternidade na primeira pessoa, cabe-me sim fazer um comentário elogioso a todas as mulheres que, perdidas no imenso mar das emoções e da sensibilidade exacerbada e na dança descompassada e flutuante das hormonas, se revelam guerreiras vitoriosas na arte de amar, de se ordenar perante tanta desordem emocional e de preparar um berço livre de agonias, de desassossegos, de inconstâncias e receios, de drama e sofrimento, e acolchoado de felicidade, sorrisos, emoções partilhadas e laços de profundo afeto e amor.

Enquanto numeróloga, acredito que há um caminho traçado antes do nascimento, escolhido consciente e deliberadamente pela alma que decide nascer, e que esse caminho reúne as condições necessárias à descoberta da felicidade num processo constantemente evolutivo. Acredito também que a alma, na escolha de tal caminho, elege igualmente aqueles que prepararão a sua vinda a este mundo, sabendo certamente que será no colo desses companheiros de jornada, no olhar ou no carinho terno sem palavras que acolherá em si a sua primeira experiência deste mundo, absorvendo igualmente as primeiras emoções, aquelas que serão a impressão digital da alma nesta experiência terrena.
Enquanto numeróloga confio, genuína e firmemente, que o propósito da vida está determinado muito antes dos primeiros passos ou da consciência da vida em si, muito antes de tudo aquilo que possamos conhecer e desejar. A vida é um caminho único e pessoal de cada alma, definido por critérios próprios, sábios e divinos como a alma em si, que permite que tudo aconteça com a máxima perfeição, respeitando o tempo e a expetativa de evolução de cada alma.

Por vezes é importante retomarmos ao ponto em que tudo começa, dentro das possibilidades que nos são permitidas, e repensar a vida na sua instância primeira: o momento em que também nós, agora adultos formados pelas experiências e tão aparentemente conscientes da nossa verdade e caminho, respirámos pela primeira vez o ar de quem nasce ansioso por mais uma vida, tão pré definida e orientada e, no entanto, tão visivelmente em branco, como que aguardando que nos seja dita qual a vida que devemos escolher. Repensar a vida a esse nível é abrir um caminho consciente à aceitação do propósito que escolhemos, tão certo e definido, escrito e imaginado com a precisão de quem vive totalmente determinado a existir da maneira mais perfeita. Repensar a vida a este nível é abrir um caminho à aceitação do propósito que outros escolheram, anuindo com tolerância, respeito e amor incondicional.

O meu olhar compassivo e cúmplice de amiga e mulher diz que não há maior desafio, maior oportunidade e caminho mais certo que aceitar e permitir incondicionalmente que o milagre surja em nós, de dentro de nós para o mundo, porque quando permitimos que o nosso corpo, a nossa vida e a nossas emoções sejam partilhados ao ponto de inspirarem novas vidas, novos começos e novos caminhos, aí surge o propósito da vida em si, a finalidade suprema da existência e o amor incondicional acontece.

Um obrigada especial a todas as extraordinárias mulheres que me têm ensinado, com a sua experiência, a entender a vida do ponto de vista de quem aceita que a vida nasça em si e a conhecer um pouco mais de perto a verdadeira forma de viver amando incondicionalmente.


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Feliz dia... do Amor!


Hesitei em escrever um segundo post no dia 14 de Fevereiro por razões diversas e facilmente suspeitáveis.
Em primeiro lugar porque é difícil, extremamente difícil, escrever um segundo post de um blog que representa o início de um caminho, entre tantos e igualmente importantes caminhos que se encetam ao longo da vida. Há toda uma expetativa, geralmente indissociável da necessidade de aceitação e validação por parte de quem “nos” lê, e há a questão da autossuperação. Decorridos tantos meses entre a embrionária ideia de conceber um blog e o rasgo de coragem de o dar à luz, a exigência é imensa e nem a consciência de se fundamentar em propósitos meramente egóicos a dissipa.
Em segundo lugar, a controversa natureza do dia de São Valentim leva a públicas discussões, muitas delas baseadas em opiniões fundamentalistas de quem não partilha da condição sine qua non que possibilita viver este dia com a imensa alegria com que outros tantos o fazem, e eu, abstendo-me de assumir uma posição perante tal, opto por resumir este dia ao que de melhor ele pode ter.
Assim sendo, este segundo post do meu amado e recém-nascido blog não é sobre o dia de São Valentim, mas sobre a fantástica oportunidade que temos todos, por questões mais ou menos interessantes ou mais ou menos fundamentais, de celebrar o Amor nas suas mais diversas formas, livre e espontaneamente, hoje e sempre. Independentemente das fortes componentes publicitárias e consumistas associadas a este dia, a verdade é que parece ser generalizada a necessidade de cuidar de quem mais se gosta, de expressar palavras e atos de amor e, sobretudo, de o fazer de forma gratuita e pública, sem preconceitos, reservas ou condicionalismos. Independentemente da designação ou da tradição do dia que se celebra, é, sobretudo, uma oportunidade de celebrar o amor e isso é algo que não deve ser menosprezado, sobretudo se nos lembrarmos das vezes em que amamos de menos, cuidamos de menos e sentimos de menos, caminhando precisamente na direção oposta daquela que devemos seguir.
Por esta mesma razão, este post não é uma reação ou comentário ao dia de São Valentim, mas sim uma celebração de todos os dias em que nos lembramos da imensidão da natureza humana, da capacidade intrínseca e genuína que possuímos todos de amar e experienciar o seu efeito único, apaziguador e curativo em nós. Este post é uma celebração de todos os que, indiscriminadamente, têm a coragem de viver a vida de forma aberta, disponível e recetiva, abraçando em si a valentia de viver com o coração.  
Feliz dia... do Amor!

"Si el hombre pudiera decir" - Luis Cernuda 

"Si el hombre pudiera decir lo que ama, 
si el hombre pudiera levantar su amor por el cielo
 
como una nube en la luz;
 
si como muros que se derrumban,
 
para saludar la verdad erguida en medio,
 
pudiera derrumbar su cuerpo,
 
dejando sólo la verdad de su amor,
 
la verdad de sí mismo,
 
que no se llama gloria, fortuna o ambición,
 
sino amor o deseo,
 
yo sería aquel que imaginaba;
 
aquel que con su lengua, sus ojos y sus manos
 

proclama ante los hombres la verdad ignorada,
 
la verdad de su amor verdadero.
 

Libertad no conozco sino la libertad de estar preso en alguien
 
cuyo nombre no puedo oír sin escalofrío;
 
alguien por quien me olvido de esta existencia mezquina
 
por quien el día y la noche son para mí lo que quiera,
 
y mi cuerpo y espíritu flotan en su cuerpo y espíritu
 
como leños perdidos que el mar anega o levanta
 
libremente, con la libertad del amor,
 
la única libertad que me exalta,
 
la única libertad por que muero.
 

Tú justificas mi existencia:
 
si no te conozco, no he vivido;
 

si muero sin conocerte, no muero, porque no he vivido."