Uma das minhas grandes tarefas
enquanto numeróloga é ajudar quem me procura a entender o seu caminho de vida,
o propósito da sua existência como um fim supremo. Na verdade, é mais do que uma
tarefa, é algo que transcende o meu trabalho e que incorporo na minha vida como
uma missão.
Durante os mais críticos e
instrutivos anos da minha vida, entenda-se o período caótico da adolescência, debati-me com as constantes crises existenciais, próprias da idade e tão especiais, acerca do
entendimento da vida, em particular a minha, a um nível que nem eu própria
entendia ser tão imensamente profundo. A inocência, a inconstância e a visão
turva, dignas de quem começa a habituar-se a esta vida e à sua própria pele, não
permitiam mais do que questionar-me, sabendo no meu íntimo, mesmo que de forma
inconsciente, que o doloroso, longo e gratificante caminho do entendimento se
perfilava ainda tão distante. A adolescência é incauta e maravilhosamente cega,
permitindo-nos apenas ver através dos olhos e negligenciando a visão sábia do
coração.
Hoje em dia, decorridos anos da
era dos porquês disfarçados, cheguei à fase da verdadeira procura, aquela que
se define todos os dias, não olhando para mim, mas olhando para o que me
rodeia, em especial olhando para todos os que formam e cocriam a minha vida
comigo. A verdadeira experiência reveladora da minha pele tem sido o
entendimento da pele dos outros, o toque suave e ameno, o toque que pede
licença depois de tocar, precisamente no instante seguinte a ter ultrapassado
todas as fronteiras da intimidade.
Ao entender o caminho dos outros,
tenho chegado mais perto do entendimento do meu próprio caminho. É uma jornada
de responsabilidade esta da cocriação, da participação ativa na vida daqueles
que se cruzam connosco, aparentemente por acaso, tão certamente de forma
intencional. É uma aprendizagem de toda uma vida a de nos reajustarmos
permanentemente às conclusões, para novamente duvidarmos e, mais uma vez,
questionarmos os porquês. No final de cada recomeço, chegámos um pouco mais
perto, num passo mais à frente da posição anterior. Mais perto dos outros, mais
chegados a nós.
Há uma magia especial na forma
como permitimos fazer parte da vida uns dos outros sem nos darmos conta de que
se trata de uma aproximação a um campo de verdade antes inacessível. A partilha
de ideias, de palavras, de emoções, de desejos e de experiências é uma partilha
de energia numa linha temporal infinita que vai eliminando espaços entre uma
unidade que se apresenta separada. E é por isso que há tanta magia na partilha,
porque, na verdade, não é uma partilha, é uma reunião de caminhos de vida que se unem para criar
uma unidade que só assim faz sentido, una!
Darmo-nos conta de como os
caminhos se cruzam de maneira tão perfeita, sob a forma de sincronicidades
destinadas a denunciar o porquê dos porquês, é uma visão privilegiada. É uma
oportunidade de abraçar o destino com outro olhar, o olhar de quem vive sedento
de se conhecer e experienciar a vida a um nível inexplicável e ininteligível.
Mas abrir o caminho a conhecer uma verdade que não é nossa, que não nos diz
respeito diretamente, mas que nos fala numa linguagem que reconhecemos de forma
inquietante e no nosso íntimo, é transcender a autossuperação da essência
humana. E, no fundo, é essa a janela através da qual vislumbramos a nossa caminhada, a
caminhada de andarmos lado a lado com quem aceita que, sem pedir licença, toquemos
a sua pele.
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