O início do Projeto De Corpo e
Alma, como o início de qualquer projeto, marcou uma mudança de direção sob a
forma de declaração assertiva de uma nova maneira de estar perante a vida. Decidi
embarcar nesta imensa viagem, ou assim me parece do ponto de vista estritamente
pessoal, vencida pelo cansaço de uma vivência de contornos desvirtuados daquilo
que hoje considero essencial. Foi uma decisão maturada, arriscada – tanto quanto
a própria vida assim o exige -, mas consciente do rumo a ser tomado por forma a
honrar o esforço da sobrevivência. Para quem não me conhece, esta viagem
começou com um fim, tal como as melhores e mais felizes histórias começam.
Começou, precisamente, na desistência de uma realidade fortemente orientada por
convenções sociais; um emprego estável e devidamente remunerado pelo Estado, a
falsa segurança de saber-se que o estado da conta bancária no final do mês
equivale a uma vida desprovida de percalços e, acima de tudo, a ilusão de que uma
vida feliz é o resultado de um dia-a-dia ordeiro e socialmente aceitável.
Contra as opiniões desfavoráveis de pessoas suficiente próximas para justificar
ponderar a desistência, muni-me das armas necessárias, enchi o peito de ar e
confiança e segui em frente.
Dei os primeiros passos com a
criação de parcerias que dessem corpo e alma às minhas convicções, criei uma página de negócio no facebook e divulguei assertiva e determinadamente os meus
serviços. Meses mais tarde, seguindo o mesmo propósito do trabalho que
desenvolvo, mas como forma de partilhar o meu olhar sobre a vida – em termos
profissionais limito-me a ajudar quem me procura a encontrar o seu propósito de
vida – decidi criar o meu blogue. Prometi a mim mesma que o fim do que
publicaria seria meramente instrutivo e construtivo. Eliminei, mentalmente,
certos e determinados temas da possível lista de dissertações. Confiei a mim
mesma a missão de dar a ler algo que se resumisse ao essencial da vida e ao que
promove felicidade. Acredito ferverosamente, e faço disso um mote na minha
vida, que as preocupações são entraves ao desenvolvimento. Não obstante, a
preocupação, a consternação, a raiva, o ódio e todos os sentimentos que possam
ter como base o medo são necessários. Sem eles não nos é possível equacionar
mudar de posição e fazer qualquer movimento com vista à expansão. Assente neste
princípio, e dada a situação mais que saturada que é a realidade da maior parte
dos que me leem, portugueses e não só, decidi escrever o texto de hoje; não
contrariado as minhas promessas iniciais, mas ultrapassando a queixa política
generalizada com o intuito de sugerir um novo ponto de vista, provavelmente não
conclusivo, mas, pelo menos, mais saudável.
O problema, se é que se pode
falar nestes termos, de todos os que se indignam com o estado político do país
em que vivem não tem origem nos políticos. De igual modo, dito problema não tem
origem na figura personificada que é o governo. Quando digo que estas não são
as origens do problema, de modo algum pretendo desculpabilizar aqueles que,
após terem ganho a confiança cedida através do voto dos eleitores, se limitam a
favorecer interesses pessoais sem olhar a meios, exercendo uma profissão que
deveria servir um bem comum, com dignidade e perseverança de propósito. Quando
digo que estas não são as origens do mal-estar generalizado de que tanto ouço
falar um pouco por toda a parte e, inclusivamente, na voz dos meus clientes sob
a forma de queixa, desolação e, muitas vezes, desespero, digo-o porque, para
mim, é inevitável olhar para a situação a partir de uma perspetiva distinta. Do meu
ponto de vida, e do ponto de vista de quem aceitou mudar de direção e procurar a felicidade num outro caminho, consciente
das oposições à vista, não se pode analisar a questão de forma descomprometida
e desculpabilizada. Por detrás da realidade política, e anterior a todas as medidas
cruelmente aplicadas sem qualquer piedade, está um voto. Existe um momento em que
se escolhe, em que se afirma a nossa convicção de optar por determinado caminho
e há um momento de autodefinição. Ainda que me pareça que a política se
encontre desvirtuada do seu princípio primário, há uma responsabilidade que é
de todos, uma voz que merece ser ouvida e cujo direito ainda é um facto.
A todos os que me procuram na
esperança de que, com a numerologia ou a com cura reconectiva, eu os possa
orientar num caminho mais feliz, e encontrando-se num estado de estagnação
pessoal, infelicidade ou, pura e simplesmente, num estado de vazio ensurdecedor,
o ponto de partida para resolução que proponho é sempre o movimento. Ainda que
não estejamos conscientes do rumo ou da dimensão do passo a dar, todo e
qualquer problema pessoal não se pode resolver por si próprio e sem a nossa intervenção.
Abanar as nossas próprias estruturas obriga-nos a uma redefinição daquela que é
a nossa verdade e obriga-nos a reconhecer, perante nós próprios, a certeza de
que não estamos bem e de que queremos algo mais. É um direito nosso: querer
mais da vida!
É uma verdade que muitas têm sido
as sólidas tentativas de marcação de posição. Efetivamente, é com orgulho que
vejo um povo que se reconhece a si próprio como “pacífico” e “cauto” a
organizar manifestações que movem multidões na tentativa de afirmar o
sentimento de desagrado generalizado. Tanto é o orgulho desses movimentos, que
só comprovam a grandiosidade do coração português que vive desejoso de paz,
como a triste constatação de que é um movimento em círculo, começando e
terminando na mesma posição.
Quem me conhece sabe que, de há
um tempo a esta parte, deixei de acreditar na política que se faz hoje em dia. Ainda
que me mantendo ativa por direito através da ida à urna para afirmar o voto que
não dispenso, a descredibilização está presente. Confio que num mundo ideal não
se faz política deste modo, confio que o ser humano tem a capacidade intrínseca
de se autorregular, não necessitando de conceder a sua vontade a um grupo selecionado
de pessoas que se assumem superiores na tomada de decisão. À parte dos meus
ideais, acredito que há um movimento eficaz que pode e deve ser feito. Acredito
que todos os povos, em retaliação à má governação, podem ainda expressar-se,
sem gritos, sem violência e sem desvirtuar a sua própria opinião. A nulidade
das medidas que se fazem sentir, das políticas a que nos obrigam a acenar e da
forma de brincar que nem crianças inconsequentes “aos políticos” tem uma via de
expressão efetiva: o voto em branco!
Na minha opinião, válida na sua
limitação pessoal, o movimento deve ser feito. Há que honrar o instinto de
sobrevivência e ousar arriscar um passo distinto e firme. Há que deixar de lado
a queixa, relembrar a agonia com a devida distância de modo a persistir a salvo
e a não cair no esquecimento, e demonstrar que o vazio que se sente é isso
mesmo, um vazio imenso que turva a visão e inviabiliza todas as possibilidades.
O ser humano é um ser livre,
profundo nos seus silêncios e rico na sua expressão. A verdadeira felicidade
surge na expressão dessa mesma liberdade, na voz que nasce do silêncio, que
amadurece na convicção e se faz ouvir nos direitos que exige. A voz do povo deve ser a expressão da liberdade e da vontade. A voz do povo - a nossa voz - é, irredutivelmente, a expressão do
que somos.
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