“Quando encontramos o nosso
caminho, toda a vida flui”. Esta é frase que repito vezes sem conta, em tom de
máxima e sentida como verdade absoluta, a todos os que me predisponho a ajudar
com o meu trabalho. Quando digo encontrar o caminho não me refiro a um objetivo
último, nem sequer a um olhar direcionado a uma imagem que se perfila no
horizonte. O nosso caminho, aquele que se define como a linha traçada na nossa
mão e o destino que aceitámos cumprir num pacto selado entre a nossa alma e a
sua verdade, não mora no futuro. O nosso caminho é aquele que se constrói
caminhando, tateando os trilhos que o compõem, saudando tanto as venturas como
as desventuras, orgulhosos da determinação em prosseguir e vencedores dos medos
e barreiras ultrapassados. O nosso caminho não é uma meta que se alcança. É uma
grande parte de nós que se acha, o desafio e o troféu num só corpo, a mão
estendida à confiança em nós mesmos e à vida que se presta à experiência. O
encontro com o nosso caminho não deve revelar-se à chegada do fim da vida, mas
sim anterior a ela mesma, num abraço tentador a vivê-lo em pleno, a ser-se
companheiro em qualquer circunstância, de mão dada e coração enlaçado. Uma vez
encontrado o nosso caminho, há uma promessa tácita de companheirismo, um
respeito mútuo que não se pode dispensar e um contrato de eternidade. Uma vez
descoberto o porquê de existirmos e da forma que nos reveste, não há retorno a deixarmos
de o ser. É uma tomada de consciência que trata de dar sentido a todas as
nossas experiências e opções.
Há, neste encontro, um sabor a
glória. Para além da certeza dos contornos que definem a felicidade que nos faz
sentido, há uma emoção que é única, pessoal e inigualável. Quando encontramos,
num qualquer ponto em que estamos da nossa vida, o nosso caminho, há uma
imensidão dentro de nós que flui. Transformamo-nos num rio abundante cujas
águas caminham determinadas, sem necessitar de orientações nem de barreiras que
definam as suas margens para saber qual a direção a seguir. A fluidez é um
ritmo que se respeita, com tranquilidade, certeza e sabedoria. Somos um rio que
não conhece outro estado de ser que não um estado cristalino, leve, fluido e
constante.
Sei que o nosso caminho, como qualquer
parte de nós, quer que nos reinventemos, reescrevamos e nos redescubramos ao
longo da vida. Somos seres que enriquecemos a cada experiência, tanto as que consideramos
boas como as más. Ajustamo-nos às flutuações melódicas da vida num instinto de
sobrevivência que é digno de uma superioridade divina. Descobrirmos o propósito
da nossa existência não nos garante uma vida liberta de reajustamentos, e muito
menos nos dispensa de nos olharmos em profundidade. Indubitavelmente, e
independentemente do quão acertados estamos com o compasso do nosso caminho, é
necessário que o silêncio nos invada e que saibamos dar ao tempo o crédito que
tem. Há o momento em que devemos desacelerar, situar-nos num delicioso limiar
entre a consciência e o imenso interior que há em nós para que nos ouçamos.
Este é um tempo dedicado a nós, que respeita a nossa natureza e que honra o
nosso caminho. É um tempo em que escutamos o nosso rio, relembramos a certeza
com que flui e deixamos que seja ele a conduzir-nos.
A vida quer-se vivida em desafio
constante. Este desafio não tem de ser uma sucessão de dificuldades ou
obstáculos difíceis de transpor. Deve ser, antes, um desafio de questionamento,
de melhoramento e constante aprendizagem. Não há vitória maior na vida que a da
autossuperação, de nos perdermos por instantes, aparentemente sem rumo ou
certeza, para nos voltarmos a encontrar, diferentes, fortalecidos, enriquecidos
e com um novo olhar sobre nós próprios e sobre a vida. Não há momentos perdidos
na vida nem caminhos sem saída. Há mudanças de direção e de perspetivas. Há a
reinvenção do que somos e o alinhamento com o que intuitivamente esperamos de
nós. Em cada momento de indecisão, de incerteza e mudança profunda há a
oportunidade de nos escutarmos. É nesses momentos, sobretudo nesses momentos,
que devemos apreciar o silêncio e saber tranquilamente mergulhar no rio que
flui dentro de nós.
Hoje sei que há um caminho muito
certo, um caminho que só a nós pertence e que nos define perante a vida. Este
caminho obriga a que nos respeitemos. É imperativo e imprescindível fazermos de
nós próprios o valor máximo do que a vida nos dá, sabermos escutar-nos como
quem está predisposto a aprender e a ser testemunha da vontade em recriar cada
parte de nós que necessita de ser recriada. Somos seres mutáveis, em constante
evolução e expansão. Somos a melodia e o compasso de espera que deve existir.
Inspirar e expirar, saber olhar com assertividade para tudo ver e saber fechar os
olhos para tudo sentir, saber apreciar o que nos é alheio para agradecer o que
vem a nós por direito, é o caminho dos caminhos. É a forma de encontrar o nosso
destino e, no mais profundo de nós, deixar a vida fluir.
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