quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

All you need is LOVE



Hoje em dia, os amores sinceros são raros. Não me refiro aos amores que compreendem juras de partilha eterna, mas aos amores honestos que preenchem espaços vazios. 


Cada vez mais acredito que um amor sincero só pode nascer dentro dos corações que conhecem a sua magnitude e que anseiam por se tornarem cada dia maiores, não por se consagrarem na união, mas por reconhecerem o gáudio de engrandecerem o outro com a sua luz.


Ao longo da minha vida, tenho dedicado as minhas reflexões e os meus questionamentos emocionais à capacidade humana para sentir e seguir o seu caminho guiado pelas emoções. Dizia-me uma cliente, num destes dias, que o ser humano é 80% pura emoção e 20% medo de sentir as suas próprias emoções. Com todo o respeito que tenho pelos processos racionais, e desconhecendo a veracidade ou fonte desta proporção, acredito, porque sinto em mim como verdade, que a maior parte de nós vive numa fuga constante de se sentir. Somos, desde pequenos, impelidos a pensar, a aprender factos, a conhecer padrões culturais e sociológicos, a identificar estrategicamente formas de sermos bem-sucedidos perante o que é esperado por quem nos instrui, mas esquecem-se de nos fazer parar e sentir. Não tenho dúvidas que é aí, nesse momento, nesse limbo da consciência emocional e racional, que aprendemos a ter medo do escuro e do silêncio, pois esse é o espaço onde somos forçados a sentir. O medo do desconhecido é o medo de nos conhecermos. O medo do silêncio é o medo de, no som dos nossos impulsos vitais, nos encontrarmos. 


O medo das nossas próprias emoções é o ponto de partida para uma relação condenada com o mundo e com a vida. Negar parte de nós, é negar a própria existência com uma coragem incauta. Sem a aceitação das nossas emoções não pode haver amor-próprio e sem amor-próprio não pode haver um amor ao próximo que seja equilibrado, saudável e que justifique o propósito de qualquer união. Amar sinceramente alguém, na forma pura que o amor exige, pressupõe a sinceridade de nos amarmos na nossa completude, com todas as emoções que nos abalam, nos derrotam, nos exultam e nos fazem sentir vencedores perante a vida. O amor-próprio é a aceitação do que somos, sem reservas nem filtros, para que o possamos partilhar com os outros.


Os amores sinceros são os que reaprendem a não ter medo do desconhecido e do silêncio. Na verdade, os amores sinceros revelam-se na descoberta do lado desconhecido que há no outro, ensinando-o a encará-lo com tolerância e ternura. Encontram a sua melodia no silêncio mútuo. Criam sons inaudíveis percetíveis apenas na atenção dedicada, nos abraços e no ressoar de ambas as pulsações. Os amores sinceros esperam, com tranquilidade e sabedoria, que os espaços vazios estejam disponíveis para serem completados e transbordarem de tanta emoção.


Eu e o meu marido tivemos, recentemente, o privilégio de fazer parte da celebração da união de duas almas especiais que conhecem o poder curativo da honestidade emocional. Raras são as pessoas que vivem tão intensamente as suas emoções, sem receio de partilhar lágrimas de alegria ou de tristeza, de se mostrarem sensíveis, de se abraçarem de forma sentida, de falar do que as move e de, no embalo da pureza que emana dos seus corações, conduzir quem os rodeia na mesma emoção. 

Tão regenerador quanto inquietante foi poder, a milhas da nossa zona de conforto, num país estrangeiro e rodeados de pessoas desconhecidas, partilhar dessa celebração, esquecendo todas as barreiras para entrar num círculo de amor e fraternidade como não há igual. Tão longe do nosso porto seguro, sentimo-nos mais em casa que nunca. Receio nunca ter presenciado anteriormente iguais palavras de dedicação, apreço e valorização trocadas entre familiares e amigos por meio de olhares cúmplices inundados de lágrimas, sorrisos genuínos, votos sinceros de felicidade e uma vontade imensa de estar ali, inteiros e cheios de amor por dentro. Não havia medo de nada. Havia muita vontade de amar, como se mais nada existisse ou fizesse sentido sem essa vontade.



Hoje, um pouco mais crente no amor e nas pessoas, e com o peito imenso, tenho um lugar especial nas minhas emoções a que acorrer quando a descrença me assolar. Irei relembrar a alegria que senti, as lágrimas que chorei, a pura felicidade que abracei com o coração e o milagre de ter cocriado um amor sincero. Irei relembrar a magia de sentir.


De volta à minha zona de conforto, sei que os amores sinceros existem. Não estão disponíveis a toda a gente, mas estão disponíveis aos que aceitam o desafio de se deixarem transformar e se libertarem dos seus fantasmas para abraçarem uma forma de viver mais intensamente. E um amor assim sincero, é tudo quanto basta.


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