quinta-feira, 28 de março de 2013

Sonho...



Tenho sonhos. São sonhos iguais aos de toda a gente, mas são meus, vividos e sentidos por mim. Não são um subterfúgio inconsciente. Sonho com o coração e sonho acordada, com a motivação inteira da alma e no enlace daquilo que defendo veementemente como a minha realidade, ainda por tornar realidade.


Sonho com as pessoas perfeitas que sei que existem, escondidas por detrás das máscaras do dia-a-dia. Sonho com todas as pessoas que existem fisicamente, mas que esquecem a sua verdadeira existência. Sonho que um dia acordam do seu mundo imperfeito e despertam para a sua verdade, olhando à sua volta o paraíso para que foram concebidas, de tantas cores quanto o arco-íris e em matizes harmoniosos. Sonho que estas pessoas não têm medos porque escolhem conscientemente dar a mão ao Amor e vivê-lo. Não o amor entre si, mas o amor dentro de si, aquele que não deixa dúvidas do que somos feitos e nos mostra o caminho quando não sabemos aonde nos dirigir e que trilho pisar. Sonho que os seus medos se transformam em oportunidades de vencer com coragem e sem dúvida de que existirá sucesso, não porque o medo deixa de ser temível, mas porque o medo é o outro lado, aquilo que não são, um oposto que se desvanece perante o seu inverso certo e incontestável. Sonho que estas pessoas perfeitas não têm reservas de falar nestes termos, de amor, de medo e novamente de amor. Sonho que estas pessoas são ainda mais perfeitas por não deixarem que ninguém lhes diga que falar de amor é ser-se demasiadamente sensível. Falar de amor, sentir amor e viver amor não pode ser nunca “demasiado” porque, no fim, é tudo. 


Sonho que estas pessoas perfeitas escolhem viver e seguir os seus caminhos porque sabem donde vêm e para onde têm de ir. Sonho que perseguem determinadas o desafio da sua alma porque sabem que essa é a instância suprema da sua existência e é ela que devem respeitar, porque tudo o mais é vão, é desta vida e nela ficará, sem antecedentes ou consequentes. Sonho que estas pessoas perfeitas não duvidam de si próprias nem dos outros. Reconhecem a ligação divina que nos une, respeitam-na e abrem o coração a uma tolerância própria de quem entende o valor da diferença e da unidade. Não trocam olhares de inveja, de superioridade nem de menosprezo porque sabem que o seu caminho se cruza com o dos outros, interligados, enlaçados e encadeados porque, no fim, somos tudo. 


Sonho que estas pessoas perfeitas vivem em desapego, despojadas dos bens materiais que pertencem a uma realidade física e limitada. Sonho que reconhecem o verdadeiro valor do que não tem preço, porque a verdadeira riqueza não existe nas nossas mãos, mas no coração. Sonho que optam por viver a vida em nome de algo maior que não se compra, não se vende nem se troca: dá-se! O amor dá-se, o saber dá-se e a própria vida dá-se. Dá-se e inspira-se!


Sonho que estas pessoas perfeitas têm tudo o que querem, não porque tudo desejam, mas porque sabem, com sensatez e clareza, aquilo de que realmente precisam. Têm um contacto direto com as suas emoções, conhecem de cor o itinerário das suas necessidades e são francas perante si próprias. Querem o que é simples e que as preenche. O essencial não contém tudo, mas é tudo.


Sonho que estas pessoas perfeitas não se interessam por veleidades. Não se interessam porque aquilo que não constrói, não engradece e não enrique a alma. Nos meus sonhos não existe dinheiro nem política porque é algo de que não precisamos para evoluir – o dinheiro não é necessário, trocam-se bens, serviços e aquilo que de melhor cada um tem para dar, explorando dons e talentos, e existe abundância; não existe política porque a justiça é intrínseca e as pessoas perfeitas auto ordenam-se, reorganizam-se, respeitam-se e sabem que o lugar que devem ocupar é o seu lugar em relação aos outros, num quadro de consciência coletiva e de unidade. As pessoas perfeitas querem evoluir e evoluem, expandem-se, sem serem mais ou menos do que outros, pois o que são é tudo o que se pode ser - a perfeição!


Nos meus sonhos, com as pessoas perfeitas que sei que existem, há um retorno de todo o bem que se faz. Não se faz mal porque não há mal. Há, sim, um amor imenso, universal e incondicional que subjaz a todas as relações humanas, estruturando e fundamentando a nossa existência. Nos meus sonhos, vive-se com o coração disponível a tudo o que nos faz bem, porque a vida é uma experiência de exultação. A vida tem de ser boa, verdadeiramente boa, e, nos meus sonhos, é!


Nos meus sonhos, existe tudo aquilo com que sonho. Existe tolerância, complacência, respeito, amor e pessoas perfeitas. Nos meus sonhos, um dia acordo e tudo aquilo com que sonho existe. 


Para todos os que, como eu, fazem da vida um sonho tornado realidade.

 

quarta-feira, 27 de março de 2013

Pontuação



Sempre me considerei uma pessoa de pessoas. A comunicação, o contacto e as relações humanas têm sido para mim mais do que uma forma de relembrar a minha experiência vívida. As relações humanas têm sido para mim uma forma de me recordar da minha própria condição, mas, acima de tudo, uma forma de aprender, reconhecer padrões e aprofundar a consciência de algo que sempre pensei ser um conhecimento inato. As relações humanas são tudo menos um conhecimento inato. São um desafio inconsciente e involuntário, um salto no escuro que aceitamos dar, pensando que sabemos exatamente onde vamos cair, esquecendo, inocentemente, que é um caminho sem retorno. Cada relação que estabelecemos é uma pontuação que vamos acrescentando ao nosso texto original. Mudam o sentido as nossas frases, prolongam as páginas e vão reescrevendo a conclusão para sempre inacabada.

Sempre gostei de observar as pessoas. Em grupos, sozinhas, os seus gestos, as suas manias, os risos, as expressões, a forma de andar e a forma como esperam paciente ou impacientemente pelo decorrer das suas vidas. Durante muito tempo observei, comparei-me a elas, tentei, na minha ingenuidade, interpretar os seus sinais à luz dos meus. Uma tremenda ilusão e ingratidão. Só mais tarde viria a reconhecer a magia dos termos incomparáveis de cada pessoa, únicos a intransmissíveis. A vida foi-me dando as oportunidades necessárias a transformar essa ingratidão numa experiência de revelação, ajudando-me a compreender que é perante a indefinição dos outros, os seus segredos e os seus silêncios, que nos definimos a nós, não como um oposto ou diferença, mas como um complemento.

Hoje em dia continuo a gostar de observar os outros e faço-o de forma inconsciente. Mas mais do que observar, gosto do contacto direto, da partilha de ideias, de experiências e da conquista da confiança e da intimidade. Gosto sobretudo do momento em que se sente que já se deu o salto no escuro e que, a partir dali, já nada vai ser igual. É talvez o momento em que se coloca uma vírgula. Quem sabe um ponto final para poder começar uma nova frase.

Tenho aprendido com a vida, e talvez por isso tenha escolhido a minha profissão, que o mais importante da vida é aquilo que damos aos outros e o que aceitamos receber. Honestamente, não sei qual das duas tarefas é a mais difícil ou mais desafiante. Para começar, há um ponto que para mim é irrefutável: recebemos o que damos. A um nível mais extremo e mais simplificado, somos aquilo que os outros são, não para nós, mas em relação a nós e, no fundo, aquilo que são para si mesmos. Dito de outro de modo, não há possibilidade alguma de eu ser para alguém aquilo que não sou para mim. O meu modo de ser para com aqueles que encontro no meu caminho não é mais do que uma via de autodefinição, um assumir de consciência e realidade pessoal perante uma realidade conjunta e relacional. E sob este ponto de vista, tão desafiante é receber como dar, pois jamais estarei recetiva a algo que não esteja predisposta a dar, reunindo para tal todas as partes de mim, ínfimas, inclusas e reunidas num puzzle de infinitas peças.

As relações são a magia de todos os dias. São a parte que esquecemos de nós próprios e que aceitamos reconhecer como uma dádiva e algo quem tem de acontecer. A família, as amizades, os amores - platónicos ou físicos - são a nossa versão pública e o espelho da nossa certeza mais profunda. Ilusão é pensar que as relações que vamos tendo e os laços que vamos criando são ao acaso e que não nos definem. São um ato de pura autodefinição com consequente aceitação daquilo que somos, que queremos ser ou desejamos ser – um desafio consciente à nossa recriação. Não há casualidade nos encontros da vida, há sim causalidade. Eu sou isto, quero ser aquilo e sinto-me assim. Encontro-te a ti, perfeito e desenhado ao pormenor das minhas necessidades, aquelas que aceitas como que impostas pelo destino, escolhidas para saciar aquilo de que precisas.

Honestamente, e enquanto pessoa de pessoas, abraço com um sorriso no coração todos os encontros que a vida me dá. Não nego as minhas escolhas e orgulho-me das relações que escolhi criar, das que permiti que voassem mais alto que as minhas expetativas e, inclusivamente, das que terminei, deixando em mim o seu melhor, decididas a findar no momento certo. As razões são as minhas razões e as mesmas que foram a força motivadora da sua criação.

Aceito a minha vida como um livro por escrever, sedento de todas as vidas e de todos os livros em branco que queiram que eu os pontue e, em troca, ajudar-me a pontuar o meu. Aceito e abraço todas as vírgulas e pontos finais que se queiram juntar à minha história para a deixar mais rica, pontuada e eternamente interminável. 


quinta-feira, 14 de março de 2013

O sentido perfeito



Há situações em que a nossa intuição, independentemente do crédito que lhe damos, exerce um papel fundamental nas nossas escolhas e opções. Na semana passada, na minha busca semanal de temas instrumentais que servem de banda sonora ao meu trabalho – a música tem o dom de agudizar a intuição e eu agradeço – deparei-me com o tema original e principal de um filme que me era totalmente desconhecido. O título, “PerfectSense”, foi suficientemente sugestivo para que, instantaneamente, me sentisse compelida a pesquisar mais sobre o filme ao ponto de querer vê-lo naquele mesmo dia. Provavelmente terá sido algo mais que o título. Provavelmente terá sido a música que, magistralmente orquestrada pelo extraordinário Max Richter, afinou a minha intuição ao ponto de não deixar passar impune este filme. Poderá ainda ter sido meramente obra do acaso… Mas não. Os acasos não existem e os impulsos são o GPS interno que nos guia na direção correta daquilo que deve ser uma experiência na nossa vida. Qualquer que tivesse sido a razão, rapidamente entendi o porquê da necessidade premente de ver aquele filme.


 Não vou deixar aqui nenhuma espécie de sinopse, até porque espero que se sintam tentados a ver o filme no final do post, e, sinceramente, acho que vale a pena ver. Na verdade, não pretendo falar do filme, mas sim das emoções e ideias que surgiram em mim. Honestamente, acho extraordinário que um filme, uma música, um livro ou um qualquer retalho do dia-a-dia nos possa envolver em pensamentos tão reflexivos, sobre questões que naturalmente não seriam objetos de reflexão - neste caso concreto, a reflexão sobre a condição humana no seu estado mais primário, na substância da sua essência, tal como se exibe perante a inexistência dos artefactos que a sustêm e a elevam a um nível de superioridade perante toda a restante matéria envolvente. 


Que será da condição humana, dos valores, das crenças, das ideias, das conceções, das tradições e constatações físicas e metafísicas, práticas e filosóficas quando a sua sustentação for invadida pela incerteza do futuro e de si própria?


O filme de que vos falo coloca a hipótese, irrealista ou não, de uma epidemia que vai roubando os sentidos, um a um, até ao estado em que o ser humano permanece entregue à sua natureza subliminar. Primeiro perde-se o olfato. Seguidamente o paladar. A audição. A visão é o último sentido que leva consigo o discernimento, a certeza do que existe ou não, a noção da realidade e do que é ilusório.


As hipóteses mais inimagináveis são aquelas que mais prontamente recusamos, mas que nos deixam sem qualquer capacidade de resposta. Perante semelhante cenário, que será esperado do ser humano enquanto espécie instruída, evoluída e cognoscente? Que será esperado de uma espécie - a sublime espécie responsável pelas mais extraordinárias experiências de expansão e crescimento - que se tem afirmado tão veementemente como a espécie racional, superior e inteligente? Que será esperado desta espécie tão distinta quando tudo o que outrora controlou se lhe escapa pelas mãos, por todos os caminhos e possibilidades e, até, pelos seus próprios sentidos? Em última instância, o que acontece à vida quando tudo o resto deixa de fazer sentido, quando tudo o que nos resta é acreditar que aquilo que outrora cheirámos, degustámos, ouvimos e vimos, permanece intacto, disponível sob outra forma de perceção, no fundo, acessível através de outros sentidos? 


É um longo e doloroso caminho a percorrer o de imaginar a nossa existência de uma forma distinta da forma como a conhecemos. Adstrita aos nossos sentidos, há uma forma de controlo sobre aquilo que nos envolve e que nos torna tão vulneráveis, ao mesmo tempo que nos dá, ilusoriamente, a sensação de domínio. Curto e fácil é o caminho de nos perdermos nas ideias, racionalizações e fundamentos daquilo que presumimos ser nosso por direito, quando o que é verdadeiramente nosso e que está presente na sua constância, não é o que nos faz controlar a nossa vida na relação com os outros, mas o que nos permite relacionarmo-nos aberta e genuinamente com os outros, connosco e com a vida.


No fim de tudo o que é a nossa experiência da vida, fica a experiência em si. A memória dentro de nós daquilo que foi a nossa impressão do mundo e da própria vida. No fim de tudo, quando não há mais nada que nos permita atestar a nossa condição humana, resta-nos voltar à forma que nos criou. Podemos manter vivas as recordações do que já fomos, do que vivemos e do que percecionámos, mas, no fim de tudo, resta-nos o que é mais natural em nós. Para além da condição humana, fiel a si própria no permanente processo evolutivo, constante é a fonte de vida que nasce, vive e não morre nunca em nós - o amor. Porque, no fundo, no começo e no fim de tudo, o que faz de nós seres capazes de ter uma perceção perfeita do que é a vida não é a forma como cheiramos, como saboreamos, ouvimos ou vemos, mas sim a forma como sentimos, mesmo sem cheirar, sem saborear, sem ouvir ou sem ver. No começo e no fim de tudo, o que sentimos é a realidade mais verdadeira e genuína que podemos alguma vez experienciar. No começo e no fim de tudo, sobretudo no fim de tudo, a vida é uma experiência de amor.


segunda-feira, 11 de março de 2013

(Des)Arrumação



Arrumar -
(origem controversa)
v. tr.
1. Pôr (vários objetos) de modo que ocupem o menor espaço possível.
2. Pôr no lugar apropriado.


Faz parte da natureza humana viver sob alguma espécie de ordem. Dizem os astrólogos que os virginianos são seres de organização e eu, que tenho o prazer de viver com um (e ainda bem porque os taurinos estão mais vocacionados para outros focos de atenção), constato a sua veracidade. Mas a organização, tal como a qualidade intrínseca daqueles que nascem sob o signo solar Virgem, é muito mais do que uma mania levada ao extremo ou uma pequena obsessão pela previsibilidade daquilo que nos rodeia quanto ao seu lugar e à sua disposição. É uma maneira de estar e um caminho para uma forma muito específica de encontrar a nossa posição no centro do mundo, mais concretamente, do nosso mundo.

Quantos de nós, até os mais terrivelmente desarrumados (o meu virginiano tem o prazer de viver com alguém assim), já tivemos a necessidade súbita de encontrar uma ordem e uma organização num dado momento, num ambiente concreto e com a máxima urgência? Quantos de nós já tivemos a necessidade de arrumar o nosso espaço, mudar a disposição da desorganização que nos parecia tão ordeira da nossa secretária ou alterar rotinas enraizadas e que pareciam funcionar na perfeição? E quantos de nós não tivemos já a necessidade de remodelar a casa com a desculpa de que “a casa precisa de um novo ar”?

Chega um momento na vida, e para alguns chega com alguma frequência, em que a arrumação do espaço em que vivemos é um alerta a uma mudança profunda que urge, a uma reorganização do que está aparentemente em ordem ou tão concretamente desordenado. Na verdade, não é a nossa casa que precisa de um novo ar, somos nós que damos pelos nossos pulmões a respirar um ar saturado que contamina, controla os nossos movimentos e nos turva as ideias. Quando a desorganização impera dentro de nós, é quando o nosso planificador interno nos emite a mensagem da necessidade urgente de arrumar e de dispor no lugar apropriado aquilo que se encontra fora do seu local de origem. Esta necessidade de arrumação externa é um grito profundo, vindo de dentro de nós, que impele a uma organização interna, a um reconhecimento emocional daquilo que esperamos de nós próprios e do lugar que queremos ocupar na nossa vida. Esta necessidade de arrumação é uma oportunidade que concedemos a nós próprios de parar no momento certo e reequilibrarmos o que está confuso e difuso na nossa vida. E mesmo que não haja nada para colocar num sítio diferente, há um momento de pausa, de respiração profunda e de tomada de consciência. É como a sensação de nos sentirmos em casa, acolhidos pelo calor do lugar que nos conforta e que é perfeito tal como é, sem necessidade de mudanças ou reajustamentos.

“Arrumar a casa” é uma forma de organizar o pensamento e as emoções, de colocar cada coisa no seu devido lugar e esperar que também nos sintamos ordenados por dentro, como se a dita arrumação se pudesse refletir em nós. É como criar um índice emocional para nos ajudar a colecionar os pedaços soltos da nossa estrutura e assim aceder-lhes diretamente quando a dúvida nos assola.


Mas o dicionário não engana ao dizer que a arrumação tem origem controversa, porque aquilo que a ordem que criamos à nossa volta não nos diz é que os movimentos inversos à sua verdadeira natureza são contraproducentes. O controverso da sua definição vai para além da nossa perceção. Na verdade, a nossa perceção sobre os nossos movimentos é altamente condicionada pela expetativa que temos sobre nós mesmos. Mesmo um olhar mais autocrítico se recusaria a admitir para si mesmo a desorganização interior e o desalinhamento com a sua ordem natural. Sob o ponto de vista interessado, trata-se da necessidade de ocupar a mente para que o coração não sinta ou para que não olhemos para nós mesmos com frieza e honestidade. O que é facto é que arrumarmos o que nos é alheio ou que está fora de nós - a nossa casa ou a vida dos outros – nos mantém distraídos por um instante. O instante suficiente para nos enganarmos a nós próprios com um à vontade de quem não quer saber de si mesmo.

A arrumação que procuramos e esperamos encontrar não é algo de que se possa dispor por mero raciocínio lógico-mental nem seguindo linhas orientadoras de propósito decorativo. É uma imagem que se reflete em nós, criada em nós, e de nós para o exterior, e não o inverso. A arrumação que procuramos e de que verdadeiramente necessitamos é aquela cujos contornos são eficazmente definidos e que tem a capacidade de nos dispor numa linearidade organizada. A verdadeira arrumação é aquela que parte da coragem de olhar com frontalidade para a crua desorganização e dar-lhe primazia sobre qualquer outro artefacto mental. É a coragem de nos admitirmos desorganizados para, com simplicidade, sem toques de bom gosto, mas seguindo os princípios estéticos da alma, deixar que a desarrumação lá fora exista para nos arrumarmos a nós.