Nos últimos tempos, parece ser
generalizada a sensação de mal-estar. Para além da típica atitude portuguesa do
“vai-se andando”, parece ser cada vez mais frequente ouvirmos pessoas que se
queixam e, para dois dedos de conversa sobre as dores do espírito (quando não
as do corpo), não faltam nunca razões.
É uma verdade incontestável que
não faltam motivos de queixa, seja pelo estado do país ou pela crise
financeira, dos quais me recuso a falar aqui no blog – por aqui só passa
energia positiva e construtiva –, seja porque “o tempo não dá para nada”, seja
porque os filhos só dão dores de cabeça, seja porque as coisas no trabalho
“estão complicadas”, seja porque “do jeito que isto está não se aguenta”, seja
porque sim, seja porque não ou seja porque talvez. No fim de contas vai-se a
analisar com atenção e distanciamento e a queixa já deixou de ser queixa,
passou, sim, a ser um modo de estar, de viver e de lidar com todas as
circunstâncias, tanto as boas como as más.
Tenho aprendido com o tempo a
distanciar-me daquilo que não me faz bem e tenho aprendido também que a mente
se formata, inclusivamente com bastante facilidade e rapidez, basta que se
queira. Dizem os entendidos que são precisos vinte e um dias de prática reiterada para
que o hábito ou costume se interiorize até se tornar parte integrante da nossa
conduta. Sinceramente, não sei se são precisos vinte e um dias nem se é preciso uma
prática reiterada, sei apenas que basta a intenção e a consciência da mudança.
Não querendo dar aqui quaisquer
lições de moral, até porque o “sentir-se mal”, seja para com os outros, para
com a vida ou para consigo próprio, é um direito adstrito de qualquer ser
humano, quero apenas falar das mudanças que empreendi, e continuo a empreender,
na minha vida para permitir que o bem-estar tomasse lugar e,
assim, pudesse tornar esta estadia por aqui numa experiência mais favorável e
algo que possa um dia relatar num qualquer pós-vida e a quem interessar.
Primeira ação: deixar de me
queixar. Qualquer que seja o mal que paire na minha vida, é preferível
aceitá-lo como um facto do que como um motivo de queixa. Da aceitação vem a
possibilidade de alcançar outras perspetivas e a queixa, por si só, não resolve
problemas.
Segunda ação: deixar de me
compadecer com as queixas alheias. Por muita vontade que tenha de ajudar os
outros, a validação das suas queixas não os vai fazer sair do mesmo sítio, e
muito menos a mim.
Terceira ação: mudar o que está
mal, nem que isso implique mudar alguma coisa em mim. Se as circunstâncias não
mudam, se os outros não mudam e eu continuo mal, mais vale ser eu a mudar.
Afinal de contas, por muito redutora que seja a margem de manobra, as
circunstâncias da minha vida influencio-as eu.
Quarta ação: deixar de ver
notícias, não alimentar comentários políticos ou anticrise e nem por um segundo
fazer zapping à hora em que os canais
nacionais dão programas facilitadores de estados depressivos ao reportar casos
de doenças e outras fatalidades semelhantes. Conhecer a desgraça que existe no
mundo, pelo menos sem intenção de promover mudanças na situação em questão, não
produz boas emoções dentro de nós nem à nossa volta, e um estado de espírito
leve, feliz e descontraído atrai situações em concordância.
Quinta ação: Após a exclusão de
elementos perturbadores, procurar focos de boa energia. Ler muitos livros de
autoajuda e reter apenas o que realmente interessa, praticar atividades que
estimulem o bem-estar físico que também é essencial, rodear-me de pessoas que
tenham o mesmo foco de atenção e que me incentivem a continuar a demanda e, por
fim, procurar a fonte dentro de mim – o único local a que devo acorrer sempre
que a queixa volta a espreitar.
Apesar de parecem ações
trabalhosas e, até, algo drásticas, na verdade drástico é passar toda uma vida
preso a um modo de viver que vai corroendo, destruindo lentamente a natureza
humana que é, por defeito, alegre e harmoniosa. Sentirmo-nos bem não deve ser,
nem tem de ser, um estado de espírito momentâneo e esporádico. Sentirmo-nos bem
deve ser uma condição de existir, caso contrário, de que vale ter alegrias na
vida quando nem sequer damos oportunidade a que se façam notar, de tal
orientados que estamos para as nossas queixas? Sentirmo-nos bem deve ser, acima
de tudo, uma forma de contagiarmos o mundo com a nossa forma de ver a vida, numa
inspiração profunda da experiência de estar vivo, na consagração do bem e bom que é
viver.
É sempre uma opção pessoal a de
escolher de que lado queremos estar perante a vida. Optar pela queixa,
insistindo na luta de remar contra a maré e focando a nossa atenção nas emoções
negativas que afundam os projetos de felicidade é um direito reservado à
existência humana, em todas as formas possíveis e imaginárias. Mas o ato de
desprezar o que com insistência nos projeta para o abismo e nos faz renunciar
ao lado bom da vida é um ato de coragem, consciente e sentido do valor, sem
preço, de viver em paz e com peito inflado de felicidade.
Cultivar energia positiva e uma
forma de estar serena e feliz é uma forma de nos conhecermos melhor a nós
próprios, de honrar a própria vida e de ganharmos a oportunidade de, perante a
queixa dizer “hoje não que me sinto bem”.
A vida é uma experiência boa e
feliz, e, para que assim seja, não precisamos de razões. Por vezes basta
não nos queixarmos.
Hoje sinto-me bem :)
Gostei mesmo! O bem estar é sem dúvida um modo de vida.
ResponderEliminarObrigada! É bom saber que há quem partilhe das nossas opiniões ;)
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